quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Graciliano Ramos: a prosa nua

                                                    Graciliano Ramos: a prosa nua

            Como romancista, Graciliano Ramos alcançou raro equilíbrio ao reunir análise sociológica e psicológica. Como poucos, retratou o universo do sertanejo nordestino, tanto na figura do fazendeiro autoritário quanto na do caboclo comum, o homem de inteligência limitada, vítima das condições do meio natural e social, sem iniciativa, sem consciência de classe, passivo diante dos poderosos.
             Contudo, em Graciliano o regional não caminha na direção do específico, do particular ou do pitoresco; ao contrário, as especificidades do regional são um meio para alcançar o universal. Suas personagens, em vez de traduzir experiências isoladas, revelam uma condição coletiva: a do homem explorado socialmente ou brutalizado pelo meio.
              Ao longo da narrativa da obra Vidas secas, o personagem Fabiano é caracterizado de três formas diferentes:
 
     " - Fabiano, você é um homem"
     " encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra'
     " - Você é um bicho, Fabiano."
     " Parecia um macaco"
             
 Outro traço que caracteriza o romance de 30 é o emprego de novas técnicas narrativas, principalmente aquelas que sustentam a introspecção e a análise psicológica de personagens. É o caso, por exemplo, do discurso indireto livre, que funde a fala do narrador à fala ou ao pensamento da personagem:

       "Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se."
       "Olhou os quipás, os mandacarus e os xique-xiques. Era mais forte que tudo isso, era como as catingueiras e as baraúnas."
       "Entristeceu. Considerar-se plantado em terra alheia!"

         Graciliano Ramos não foi apenas romancista; escreveu, ainda, contos ( Histórias Incompletas, Insônia, Alexandre e outros heróis), crônicas (Linhas tortas, Viventes das Alagoas) e impressões de viagens (Viagem).
          O autor de Vidas secas sobressai entre os demais de sua época, não só pelas qualidades universalistas que apresenta, mas sobretudo pela linguagem enxuta, rigorosa e conscientemente trabalhada, no que mostra o legítimo continuador de Machado de Assis na trajetória do romance brasileiro.
                                                                                                   BOA LEITURA!



sábado, 26 de outubro de 2013

MORTE E VIDA SEVERINA - Aprofundando um pouco mais

                                                                        TEMÁTICA

                Morte e Vida Severina (1954-1955) aborda o tema espinhoso da seca nordestina, dando voz aos retirantes que fazem o duro percurso entre o Rio Capibaribe e Recife. Percebe-se um forte apelo social, mostrando o drama de um homem que não tem um trabalho fixo e pior, fica vagando pelo sertão em busca de uma tarefa que não aparece.
                 O grande desafio do retirante é o confronto que trava, ao longo do poema, com a morte.
                 O texto, no conjunto, apesar da forte crítica social, apresenta grande esperança. Pela ótica que ele é apresentado, cada vida que brota, mesmo tendo um destino "severino", há uma renovação de uma vida melhor.
                  A explosão de mais "uma vida severina" parece dar continuidade a essa corrente de severinos. Eles não estão somente no sertão seco do Nordeste; estão em todo país, severinamente lutando contra a "morte em vida".
                 Morte e vida se equivalem, pois a vida é uma luta constante contra a morte, uma luta para manter-se a vida, mesmo que "severina", isto é, sofrida.

                 " mesmo quando é uma explosão
                   como a de há pouco, franzina;
                   mesmo quando é a explosão
                   de uma vida severina."                 

                                              
                                         O TEMPO, O ESPAÇO E A NARRAÇÃO


                 O tempo e o espaço contribuem para o caráter de denúncia social da narrativa. O tempo não é determinado cronologicamente, o único indício que aparece é a situação da seca e a estação do verão, na época em que o Capibaribe seca.
                 O espaço possui um movimento de deslocamento: o retirante faz a travessia do Agreste para a Caatinga, da Zona da Mata para o Recife. Durante esse deslocamento, em busca da vida, depara-se com tantas mortes e misérias, que pensa em se atirar no rio e apressar a própria morte.
                 A história é narrada em 1ª pessoa, pelo personagem Severino, composta de monólogos e diálogos com outros personagens.
                 Morte e Vida Severina apresenta uma linguagem concisa, porém repleta de expressões populares, bem como de muita musicalidade.

                                                                                                 Uma boa leitura!



quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto

                                                         ESTRUTURA DA NARRATIVA      

                               Trata-se de um auto de Natal, seguindo a tradição dos autos medievais, é uma narrativa em versos, faz uso da redondilha, do ritmo e da musicalidade.
                               Morte e Vida Severina estruturalmente está dividida em 18 partes, no entanto, outra divisão muito nítida pode ser feita quanto à temática: da parte 1 a 9, compreende-se o trajeto sofrido de Severino até Recife, seguindo sempre o rio Capibaribe, ou o "fio da vida" que ele se dispõe a seguir, mesmo quando o rio lhe falta e dele só encontra marca no chão crestado pelo sol. Da parte 10 a 18, o retirante está no Recife ou em seus arredores e sofridamente sabe que para ele não há nenhuma saída, a não ser aquela que presenciou no percurso: a morte.
                               Sua linha narrativa segue dois movimentos que aparecem no título: morte e vida. No primeiro temos percurso de Severino, personagem-protagonista, para Recife, em face da opressão econômico- social. Severino tem a força coletiva de uma personagem típica: o retirante nordestino. Do interior da Paraíba ao Recife: a busca de vida X a sucessão de mortes. No segundo movimento, o da vida. O autor coloca a euforia da ressurreição da vida, Severino assiste à encenação celebrativa do nascimento.
                                 E quando Severino está para pular para fora da ponte da vida, eis que a Vida renasce através de um choro de menino.
                    

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Vidas Secas

Vidas Secas, Graciliano Ramos



             Narrado em 3ªpessoa, Vidas Secas possui 13 capítulos autônomos, mas se ligam pela repetição de alguns motivos  e temas, como a paisagem árida, a zoomorfização e antropomorfização das criaturas, os pensamentos fragmentados das personagens e consequentemente os problemas de linguagem.
            Vidas Secas retrata a dramática desavença de pessoas que não conseguem comunicar-se. Nem os opressores comunicam-se com os oprimidos, nem cada grupo comunica-se entre si.
            Os diálogos são raros, as palavras que vêm diretamente das personagens são apenas xingamentos, exclamações, ou mesmo grunhidos. A terra é seca, mas sobretudo o homem é seco. Daí o título Vidas Secas.
            Vidas Secas começa com uma fuga e termina com outra. O romance decorre entre duas situações: entre a seca e as águas, o mundo de Fabiano e o mundo composto pela sociedade ( soldado amarelo, seu Tomás da bolandeira, o patrão de Fabiano).
            Graciliano Ramos pretende na obra, denunciar a desigualdade entre os homens, a opressão social, a injustiça e principalmente a luta das pessoas diante do flagelo da estiagem e o sacrifício delas para sobreviver.
            Vidas Secas é atual, é pensar no Brasil e no mundo de hoje.
Enquanto houver injustiça social, crianças com fome e  trabalhadores explorados, Vidas Secas será atual, porque é baseada nessa realidade de exclusão e opressão.

A Moreninha

Nossa 3ªleitura- A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo



Com a Independência do Brasil, em 1822, os escritores românticos tomaram para si o compromisso de definir nação, povo, língua e cultura brasileira. O romance, ao surgir nesse contexto, assumiu o papel de um dos principais instrumentos nesse processo de "descoberta" do país e de busca da identidade nacional.

       O romance brasileiro e a busca do nacional

       Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas empenharam-se no projeto de construção de uma cultura brasileira autônoma. Esse projeto exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente, nossa língua, nossas tradições e também das nossas diferenças regionais e culturais. Nessa busca do nacional, o romance voltou-se para os espaços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico, ao romance regional e ao romance urbano.

       A Moreninha

       No Brasil, a literatura romântica contou com um número considerável de romances urbanos, entre os quais se  destaca A Moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, o primeiro romance brasileiro propriamente dito.
       Macedo utilizou ingredientes necessários para satisfazer o gosto do leitor da época: o namoro difícil ou impossível, a dúvida entre o dever e o desejo, a revelação surpreendente de uma identidade, as brincadeiras de estudantes e uma linguagem mais inclinada para o tom coloquial.
       Um boa leitura! 


Aprendendo mais um pouco:- A Moreninha 


       A vida de Joaquim Manuel de Macedo coincidiu com os anos em que o Brasil vivia sob o regime imperial. Às vésperas da proclamação da Independência, presenciou os esforços de emancipação política do Brasil, acompanhou as grandes modificações pela qual passou a cidade da Corte (Rio de Janeiro), no seu esforço de modernização e morreu sete anos antes da Proclamação da República, em 1889. Esses fatos políticos, sociais e culturais  serviram de base para que Macedo desenvolvesse e introduzisse no país um novo estilo literário: o Romantismo.
       Na primeira metade do século XIX, a inseminação da cultura europeia no Brasil era latente. Chegavam da Europa a moda, as revistas, os perfumes e também as ideias renovadoras do Romantismo (a cidade do Rio de Janeiro era considerada a Nova Paris), cuja proposta era a de uma literatura voltada para as raízes nacionais, expressa em linguagem simples e próxima do coloquial com valorização do folclore, das tradições e das manifestações individuais.
       Ao mesmo tempo em que crescia o número de leitores no país, verifica-se o surgimento de uma vida cultural na corte brasileira. Esses acontecimentos eram resultado do gradual desenvolvimento das cidades, em especial o Rio de Janeiro. Consequência dessa gradual evolução social surgiram na capital do Império vários jornais, trazendo outra novidade: o folhetim.Configurado como uma simples técnica de publicação, os jornais dependiam dessas histórias de leitura rápida e descompromissada, em que o enredo, sempre que alcançava um momento culminante, era interrompido propositalmente para que pudessem atingir seu público alvo ( mulheres ricas e ociosas ). Dessa forma, o folhetim alterou profundamente as características do romance enquanto gênero literário. Tanto A Moreninha como outros romances de Macedo, possuem as características do romance-folhetim, gênero da narrativa que irá marcar definitivamente os primórdios do romance brasileiro.
        O estilo de Macedo segue uma linguagem ágil, viva, introduzindo o leitor diretamente no centro da ação. Um exemplo é o primeiro capítulo "Aposta imprudente" em que os diálogos entre os estudantes seguem diretos, sem a interferência do narrador onisciente.
        Ao longo do texto, o narrador limita-se a conduzir o leitor pelos ambientes e pelo interior das personagens  (Capítulo XIX - "Entremos nos corações"), orientando o leitor a acompanhar todas as ações. Macedo também costuma ser econômico nos comentários e nas descrições.
        As heroínas de Macedo, longe do esquema dos super-heróis míticos que povoam o Romantismo, não deixam de constituir seres excepcionais. Nos homens eles adquirem um caráter retido, são corajosos, fiéis e absolutamente honestos, enquanto que nas jovens heroínas destaca-se o perfil idealizado, com ar de entidades sobre-humanas, quase divinas, bem de acordo com os padrões femininos valorizados pelo Romantismo.
         Por fim, podemos dizer que Joaquim Manuel de Macedo, sendo fiel demais ao seu tempo, passou com ele, e hoje sua obra, do ponto de vista sociológico, nos interessa mais como documento do modo de sentir e viver de uma época do que especificamente um documento literário.

Capitães da Areia

Capitães da Areia, Jorge Amado



 Aprendendo mais um pouco 

Contexto histórico

 Com o fim da política do café com leite e a deposição de  Washington Luís, inicia-se a Era Vargas.
                  1930 a 1934  
    -Governo provisório marcado pelo voto feminino e secreto. 
    - Revolução Constitucionalista de 32.
    -Vargas é eleito presidente pelo Congresso.
                  1934 a 1937
    -Apresenta-se o Governo Constitucional. 
    -Uma nova Constituição é lançada e surge o plano Cohen.
    -Vargas se isola de vez no poder.
                  1937 a 1945 
    -Período da ditadura Vargas.
    -Censura e perseguições.
    -Desenvolvimento industrial.
    -Participação do Brasil na Segunda Guerra Mundial é decisiva para o fim da Ditadura.




Enredo

              Capitães da Areia tem como núcleo a cidade da Bahia, com seus tipos insquecíveis, retrata o cotidiano de pobres crianças que vivem num velho trapiche abandonado. O escritor mostra as brutais diferenças de classe, a má distribuição de renda e os efeitos da marginalidade nos jovens discriminados por um sistema social perverso.
             Jorge Amado monta, por meio de quadros mais ou menos independentes, as andanças das personagens pela cidade de Salvador, intercalando a narração com notícias de jornal, bem como pequenas reflexões poéticas.
             Percebe-se na obra, além do desenrolar das ações, com as aventuras dos pequeninos heróis, o destaque à existência, a movimentação de diferentes tipos de personagens, que compõem o quadro social de uma comunidade.
             Um aspecto importante, no que diz respeito à estruturação da narrativa, é a divisão em partes do romance. Ao todo sâo três, subdivididos em capítulos ora mais longos, ora mais curtos, precedidos de um pequeno prólogo de caráter jornalístico.
             O escritor utiliza o recurso do prólogo (texto que antecede a obra) para criticar indiretamente os poderosos e ao mesmo tempo, mostrar a feição realista do romance, dando a impressão de que tudo na obra é absolutamente verdadeiro.
              A primeira parte do romance, formada de onze capítulos, é a apresentação, com a biografia das principais personagens.
              A segunda parte, formada de oito capítulos, trata mais especificamente da descoberta do amor por parte de Pedro Bala.
              A terceira parte, formada de oito capítulos, mostra o destino das personagens.
              Jorge Amado explora um aventura individual, ainda que interligada com a aventura coletiva e escolhe como seu centro de interesse a figura de Pedro Bala.
              Quanto à temática, há um confronto de classes sociais que se antagonizam. De um lado, os desprotegidos da sorte que se tornam senhores de um espaço vazio, a areia que dormem. Os meninos sâo capitães da areia e pelo fato de viverem na orla  do mar, têm ampla liberdade para percorrê-la em todos os sentidos, acentuando ainda mais a sua marginalidade. Por outro lado, os burgueses: fechados em suas mansões, vestidos em grossos capotes, distanciam-se da natureza e tornam-se vítimas do próprio sistema que criaram.
              Para acentuar mais as diferenças e os confrontos entre as classes, Jorge Amado mostra que os poderosos dispõem de certas forças que os protegem e que servem para marginalizar ainda mais os desfavorecidos. Essas forças são a polícia ( reformatórios e orfanatos) e a Igreja.
              Jorge Amado prima pela espontaneidade, consegue registrar com maestria as falas de diferentes camadas sociais, ganha forças com o linguajar popular e evidente infração à norma culta.
              Um boa leitura!

José de Alencar

Nossa 3ª, 4ª e 5ª leituras- Obras românticas - O Guarani, Iracema e Senhora, de José de Alencar

         O Romantismo surge no Brasil poucos anos depois de nossa independência política (1822). Por isso, as primeiras obras literárias e os primeiros artistas românticos se mostram empenhados em definir um perfil da cultura brasileira, no qual o nacionalismo torna-se um traço essencial.
         Em um contexto político, a expressão nacionalismo e indianismo aflora em um momento em que o país recém- independente buscava a afirmação de sua personalidade, e ficava mais evidente quando da vinda da família real para o Brasil.
         O nacionalismo era o motivo exaltador para o momento de transição cultural em todo o mundo. Logo, o nativo era a figura denominada mola mestra para justificar a origem da sociedade brasileira, uma vez que a Coroa precisava de uma figura para seu discurso ideológico. Daí a importância do nacionalismo, da necessidade de afirmação da personalidade, evidenciados na literatura romântica.

O romance brasileiro e a busca do nacional

          Nas décadas que sucederam a Independência do Brasil, os romancistas empenharam-se no projeto de construção de uma cultura brasileira autônoma. Esse projeto exigia dos escritores o reconhecimento da identidade de nossa gente, nossa língua, nossas tradições e também de nossas diferenças regionais e culturais. Nessa busca do nacional, o romance voltou-se para os espaços nacionais, identificados como a selva, o campo e a cidade, que deram origem, respectivamente, ao romance indianista e histórico (a vida primitiva), ao romance regional ( a vida rural)  e ao romance urbano ( a vida citadina). José de Alencar, o maior romancista do nosso Romantismo, escreveu obras que enfocaram esses três aspectos, como O guarani, romance histórico-indianista, Senhora, romance urbano e O gaúcho, romance regional.



José de Alencar e o romance indianista
       As principais realizações indianistas em prosa de nossa literatura são três romances de José de Alencar: O guarani (1857), Iracema (1865), e Ubirajara (1874).
       Nas três obras, o ambiente é sempre a selva, porém com algumas diferenças: em O guarani, o índio Peri vive próximo aos brancos; em Iracema, o branco é que vive entre os índios; Ubirajara é o único romance que trata apenas da vida entre os índios.

O guarani: o mito da povoação  

         O guarani, romance histórico-indianista, foi publicado pela primeira vez, sob forma de folhetim no Diário do Rio de Janeiro, em 1857.
         A obra se articula a partir de alguns fatos essenciais: a devoção e fidelidade de um índio goitacá, Peri, a Cecília; o amor de Isabel por Álvaro e o amor deste por Cecília; a morte acidental de uma índia aimoré, provocada por D.Diogo, e a consequente revolta e ataque dos aimorés, ocorrido simultaneamente a uma rebelião dos homens de D.Antônio, liderados pelo ex-frei Loredano, homem ambicioso e devasso que queria saquear a casa e raptar Cecília.
           Durante o ataque, D.Antônio, ao perceber que não havia mais condições de resistir, incumbe Peri de salvar Cecília. Os dois partem e são supreendidos por uma tempestade, que se transforma em dilúvio. Peri conta então a ela a lenda indígena segundo a qual Tamandaré e sua esposa se salvaram de um dilúvio abrigando-se na copa de uma palmeira desprendida da terra e alimentando-se de seus frutos. Ao término da enchente, Tamandaré e sua esposa desceram da palmeira e povoaram a Terra.
           As águas sobem, Cecília se desespera... A lenda de Tamandaré parece que irá se repetir.



José de Alencar e o romance regionalista     
 Coube ao romance regionalista, mais do que aos romances indianista, histórico e urbano, a missão nacionalista que o Romantismo, se atribuiu de proporcionar ao país uma visão de si mesmo. Estendendo o olhar para os quatro cantos do Brasil, o romance regional buscou compreender e valorizar as características étnicas, linguísticas, sociais e culturais que marcam as regiões do país e diferenciam umas das outras.
     Sem apoio em modelos europeus, o romance regionalista romântico teve de abrir sozinho seus próprios caminhos. Portanto, constituiu em nossa literatura uma experiência nova, que exigiu dos escritores pesquisa e senso de observação da realidade.Como resultado desse empenho, os romances regionais românticos deram um passo decisivo no rumo da tão desejada autonomia cultural brasileira.



José de Alencar e o romance urbano
      Tanto na Europa quanto no Brasil, o romance urbano, pelo fato de tratar das particularidades da vida cotidiana da burguesia, conquistou um enorme prestígio entre o público dessa classe. Esse êxito não apenas teve como consequência a consolidação e o amadurecimento do romance como gênero, mas também preparou caminhos para voos literários mais altos, representados pelos romances urbanos de Machado de Assis, que surgiram alguns anos depois.

Alencar e a crítica social

        Além de ter se dedicado ao romance indianista e ao romance regional, José de Alencar foi também um de nossos melhores romancistas urbanos. Suas obras, além de conter os ingredientes próprios do romance urbano romântico - intrigas amorosas, chantagens, amores impossíveis, peripécias - conseguem analisar com profundidade certos temas delicados daquele contexto social. Em Senhora são abordados os temas do casamento por interesse, da independência feminina e da ascensão social a qualquer preço.

Senhora

       Publicada em 1857, Senhora é uma das últimas obras escritas por Alencar. Ao tematizar o casamento como forma de ascensão social, o autor deu início à discussão sobre certos valores e comportamentos da sociedade carioca da segunda metade do século XIX.
       Embora Senhora ainda esteja presa ao modelo narrativo romântico, que considera o amor como o único meio de redimir todos os males, a obra apresenta alguns elementos inovadores, que anunciam a grande renovação realista, tais como a vigorosa crítica à futilidade dos comportamentos e à fragilidade dos valores burgueses resultantes do então emergente capitalismo brasileiro e certo grau de introspecção psicológica.